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sábado, 18 de agosto de 2012

O copo sujo de batom ainda está na prateleira. Eu sei, já devia tê-lo tirado de lá... Mas todo santo dia eu o olho e me dá uma pena, sabe. Eu sei que o copo está vazio, porém é só pro cego que não quer ver. O copo está vazio pra um leigo, pra uma visita chata no fim de tarde de sábado. Pra mim não. Eu me afogo naquela marca de batom, me afogo nas paredes finas de vidro, me afogo nas digitais, me afogo nas lembranças. E vai ficar lá. Deixa o copo lá que hoje e amanhã eu quero ficar olhando pra ele. Melhor que a TV, melhor que o rádio, melhor que qualquer janela aberta. O copo está, aparentemente sujo. Poeira, batom, mancha de dedo. Um leigo vê isso, uma visita inconveniente num fim de tarde de domingo chato também. Eu vejo um copo limpo, tão transparente quanto água de nascente! Boas e puras lembranças de uma noite de quarta que insiste em durar até hoje. Acho que são as memórias que limpam o copo todas as manhãs, antes mesmo que eu acorde. E eu fico na sala. Pra cada folha do livro, lanço um olhar nostálgico e pronto... O batom no copo fala comigo, as digitais me tocam. Podia ser um copo na prateleira esquecido pelo desleixo, esquecido pela falta de tempo, podia ser tudo o que você conseguir imaginar. E é.