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segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Primeira pessoa do indicativo a morrer por nada, todo dia.

Quem se importa pra onde você foi com seu amorzinho de meia tigela? Quem se importa e se interessa se vocês vão transar todas as noites depois que estiverem morando juntos? Quem realmente liga pro fato estúpido de você se submeter as regras básicas da boa convivência com o ridículo namorado machista? Quem que vai dar ouvidos às novidades mais clichês do tipo "chá de casa nova" ou "chá de qualquer merda dessas"? Quem que vai atrás de dar conselho e dizer que ainda não é hora? Quem que realmente vai chegar e dizer "vai, você merece"? Quem que vai ignorar tudo isso? Quem que vai fazer o papel do trouxa? Quem realmente vai se prender a algo que nunca lhe foi seu? Quem vai, me diz...

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Fátima profana.

Eu não vou perdoar o seu desleixo, Fátima. Não se abandona alguém assim! Você que questionava minha educação e olhava condenando o fato de eu preferir colheres a garfos, não pode deixar que isso acontecer. Fátima, nem se eu deixasse de crer e tudo que a Irmã Lucinnha me ensinou no catecismo e resolvesse servir ao Satanás, nem assim, mulher, eu seria capaz de uma coisas dessas.

Bombas relógio em forma de coração não amenizam os estragos.

"Em um prédio em reforma, não havia vizinhos por perto para observá-los levando grandes quantidades de produtos químicos domésticos com cheiro forte, bem como uma mala de pregos, para produzir um instável pó branco explosivo conhecido como TATP -- ou triperóxido de triacetona --, que usaram mais tarde em seus ataques."

Você podeira ser facilmente um homem bomba, um terrorista. Explodir e espalhar seus estilhaços no meio de uma faculdade, de um cinema, de uma sessão de teatro.
E eu seria o primeiro da fila. O primeiro a ver seu olho cor fundo de rio encandecer e a sentir toda a vontade e o desejo de explodir o mundo com um único beijo.

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Das cordas e dos nós.

Não adianta me beijar como se não houvesse o próximo segundo de vida. Nós não nascemos pra isso.

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Meu olho quase cego pelo sol se encantou com teu atrevimento ao pular da ponte velha.

O sol de meio dia ardia no rosto, nos ombros e onde mais batia. Aquele vento com cheiro de ferrugem, mar e você, me deixavam mais mareado. Nunca me senti aventureiro o suficiente e você sabia disso. Medo de altura, medo de queda, medo de me machucar, medo de morrer, medo do mar. A longarina velha rangia toda quando a onda arrebentava. Eu fiquei de cabeça baixa, olhando suas pernas, seus pés de unhas vermelhas e você empolgada, apontando pro longe, mostrando que pra esquerda era o porto e pra direita era o espigão. Não consegui prestar atenção em muita coisa e você sabia disso.
- Pula.
- O que?
- Pula. Eu duvido!
- Vai continuar duvidando.
Eu engoli seco. Pra que isso agora? Não suporto desafio!
- Deixa de frescura! Todo mundo pula daqui, sabia?
- Ah, mas eu não sou todo mundo. - Falei com um sorriso que a essa altura já estava corroído pela maresia.
- Hahaha! Vem! Deixa de bobagem!
- Pula você, então!
- Tudo bem.
Eu nem consegui acompanhar suas pernas, seus pés de unhas vermelhas. Você se jogou da ponte rumo ao mar. Minha unica reação foi pensar em nada e em mil coisas ao mesmo tempo. Você pefurou a água que nem uma flecha e pouco tempo depois emergiu rindo, fastando o cabelo do rosto.
- Vem! Eu pulei, agora é sua vez, vem!
Naquele instante eu só lembrei das histórias que eu lia sobre pescadores que se atiravam no mar quando ouviam o canto da sereia. Voltei no tempo por dois segundos e me vi com nove anos, naquela época eu sentia um misto de amor e ódio pelas sereias.
- Anda! Pula logo! Eu te seguro!
O vento bagunçava meu cabelo sem a menor cerimônia. Olhei pro céu. O sol estalando no alto, mal se via nuvens. Uma jangada passava rente a linha do horizonte. Por incrível que pareça, foi ali que eu percebi o quanto eu queria você e que, se fosse preciso pular dez, cem, mil vezes, eu pularia.

sábado, 15 de outubro de 2016

Você sentou do meu lado e me mostrou seu caderno.

Se teu sorriso fosse ponte
Eu definitivamente atravessaria
E não me importaria
Onde iria dar.

De cima da duna eu te quis.

A pele morena
O dente pequeno
A mão quente
Eu senti sua cintura
Você evaporou entre meus lábios
Cheiro de mar
Alga marinha
Na boca com gosto de praia
A praia com jeito de tu.

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Em nome de todas as coisas que eu realizei em pensamento.

A gente nunca vai saber como é dormir abraçado e também não vamos saber como ficará nossas caras depois de chorar vendo um filme de amor que lembra nossa história. Eu e você não vamos ter a mínima noção de como é chegar em casa depois de um dia filho da puta e deitar no sofá enquanto conversamos sobre todas as besteira do mundo até sabe-se lá que horas da madrugada. Não vamos nunca saber qual a sensação de tomar banho juntos e rir um da cara do outro porque caiu shampoo no olho ou porque o sabonete escorregou e caiu bem em cima do ralo. E também jamais seremos capaz de consolar a dor da perda ou comemorar a felicidade de um reencontro. Não vamos sentir saudade. Não vamos dividir o resto da pizza que sobrou na geladeira. Não vamos saber o que vestir pra agradar os seus ou os meus pais. Não iremos ao parque pra tirar duzentas fotos e só gostar de três. Não saberemos como será a divisão das contas pra pagar no fim do mês. Não saberemos como é cantar no chuveiro e pedir pra quem tá fora complete a música. Não vamos saber como é bom fazer as pazes depois de uma briga. Nem vamos ser o despertador um do outro. A gente nunca vai saber o que é esperar notícias durante o dia e nem vamos ser capazes de imaginar o miado dos seis gatos que a gente nunca vai ter.

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Buracos negros não são invencíveis, segundo Stephen Hawking.

"Não é o fim do mundo".
Eu queria começar todos os meus dias com esse pensamento, mas de uns tempos pra cá, tem sido quase impossível não ver o mundo acabar assim que abro os olhos. Nada tem se sustentado. A paciência, a aparência, a sapiência... Tudo escorre, deprime, comprime, tem cheiro de morte.
Eu, definitivamente, não sei lidar com a morte. Domingo de tarde, quando eu cheguei na varanda da minha casa e avistei a Romeu morta, tudo endureceu. Passou um filme na cabeça e eu chorei compulsivamente o resto do dia. Amarguei a morte da minha pequena e tive medo de morrer sem perspectiva, sem ter tido gosto do vôo livre entre as penas finas. Nunca consegui fazer carinho na Romeu, era o passarinho mais onça que eu já vi. A primeira vez que eu segurei a Romeu na mão ela já tava morta, enrolada num papel seda branco. Chorei de novo. Foi tão dolorido deixar a oncinha pra terra comer. Nem consegui me despedir, só chorei e senti todo o peso do mundo nas costas. A bichinha foi do mesmo jeito que chegou, do nada e pro nada. Minha mãe disse que passarinho morre assim, de repente. Eu fico imaginando a dor. Por que eu ignorei seu piado? Por que eu não fui ver você, antes, Romeu? Morreu sozinha, de olho aberto. Foi tão triste. Foi a coisa mais triste que eu vi. Um vez quando eu voltava do trabalho, avistei um pombo morto no meio fio da avenida. Eu olhei pro pombo e pensei tanta coisa ao mesmo tempo. Como que pombo morre? Como que todas coisas morrem? Pra onde tudo que morre vai? Qual o propósito de viver pra morrer? A gente nunca pensa que vai acontecer, mas vai. A desgraça sempre vem como um balde de água fria no corpo quente. Desculpa ter tirado de você a liberdade e talvez a vontade de viver. Desculpa por ter te dado a vida mais breve e medíocre que qualquer ser vivo podia ter. Desculpa por todas as vezes que eu reclamei por você ter jogado as casquinhas das sementes de girassol no chão da varanda. Você merecia muito mais. Você tinha o mundo todo pra voar e não voou porque eu não deixei. Espero que você não tenha morrido de tristeza, que nem eu morro todo dia.