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domingo, 18 de outubro de 2015

Olhares cruzados na cidade paralela.

Talvez você não leia isso. Nem eu sei se ainda vou querer ler... Hoje foi um daqueles dias em que eu tentei fugir de todas as formas. E tentei de verdade, com o afinco que eu não tinha até umas seis horas atrás. Mas você sabe como é, as vezes a cabeça quer uma coisa e o coração quer outras duas, totalmente diferentes. Fugi, não nego... O problema é que dentro de mim crescia uma vontade alucinada de te ver. Na verdade era que você me visse. Eu esperei que você entrasse no bar e que sentasse na mesma mesa e que me perguntasse sobre o dia e me beijasse como nos velhos tempos e me dissesse, em seguida, que estava de volta. Nada disso aconteceu. Você não chegou. Você nem sequer pensou em me ver. Então eu fui até você, fui a contra gosto, fui rezando pra não esbarrar, pra não ver, pra nem sentir o cheiro. Ilusão. Essa cidade é pequena demais pra acreditar que eu não vou ver você enquanto existir. Eu vi e quase esbarrei e por várias vezes senti teu cheiro. E você desviou, esquivou, passou, fingiu que não viu, sumiu no meio da multidão, se fez vulto e depois nada.

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Conseguimos ir tão rápido de estranhos a casal e mais rápido ainda de casal a estranhos.

Eu sei que a essa altura, a única coisa que restou de nós foi mágoa. Você com suas queixas, eu com as minhas e nada resolvido. E até na hora de conversar sobre tantos espaços vazios nós brigamos e ficamos entojados. O problema é que eu ainda não deixei de te chamar de amor, de te querer amor, de te fazer amor de todo santo dia. Ainda tem um monte de coisa pra falar, mas eu sei que não tem palavra suficiente, você consegue entender? Não. Acho que você não entende. Nem eu consigo entender, as vezes... Por mágica ou pura ironia, sei que deve estar com sua melhor cara de abuso ao ler isto... Eu até consigo imaginar sua boca se projetando num leve sorriso de deboche.

Ps. Ainda bem que não leio pensamentos.

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

E foi.

Não foi sua partida, não foi.
Já me despedi de muitas e por algumas sofri a dor da perda. Mas sempre houve um motivo, um porquê e no fim sempre um adeus concreto, entende? Ninguém chegou do nada e se foi do nada. Ninguém chegou tão longe, tão rápido, com tanta força e simplesmente se fez areia entre os dedos, fumaça solta no ar. Não foi sair pela porta, isso todo mundo faz o tempo todo... Foi sair pela porta e sequer dizer tchau.

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

No descompasso

Depois que você foi embora, tomar café sem açúcar, dançar fora do ritmo, me embriagar com cerveja quente, fumar os piores cigarros, comer sem fome, andar sem rumo, escutar músicas depressivas, usar canetas sem tinta, torcer o pé ao descer do ônibus, ser assaltado na calçada de casa, perder as chaves da porta, ter constantes náuseas, vestir a camisa ao avesso, chegar atrasado nos lugares, estender o mau humor matinal até a noite, tirar notas baixas na faculdade, cortar o dedo abrindo latinha de refrigerante, não ter um pingo de concentração, ter todas as roupas folgadas, estar sempre com olheiras, o cabelo sempre assanhado... Tudo isso acontece sem qualquer oposição da minha parte.

Tudo desanda sem você.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Extreme

Eu sou extremo. Estou no auge e no fim, no termo, na raia, no limite, na extremidade, na ponta. Eu sou extremo. Sou máximo, intenso, veemente, enérgico, supremo, ativo, forte, ardente. Eu sou extremo. O radical, o exagerado, o excessivo, o extremista. Eu sou tudo isso e mais um pouco. Eu sou o que ama você.

Meu amor lindo,

Não adianta mais sonhar comigo. Eu já caí nos braços de muitas, já me borraram todo de batom e o seu cheiro nem é mais comum nas minhas camisas. Me dói dizer, mas nós nem sequer podemos mais ouvir nossa música... e isso só aconteceu porque você permitiu que baixassem o volume. Agora eu entendo o motivo de você dizer que nunca saía bem nas fotos. Seu sorriso era pesado demais, você era infeliz demais, você fingia e mentia que era nós éramos demais.

Cansei de me perguntar que horas você volta. Sua ausência parece só mais um vulto que passa vez ou outra e só eu, com esses olhos meio cegos, mal consigo ver. Talvez você não tenha noção alguma, mas quando me apertava contra o peito e dizia que me amava, sem querer você morria e me matava. Matava e morria toda vez que me afagava e me apertava e me moía.




quinta-feira, 1 de outubro de 2015

as três mulheres perdidas do centro cheiram a sexo e cigarro

Eu desço do ônibus e as três sempre estão sentadas no primeiro degrau de uma bodega. Os pés encardidos, sofridos, de unhas vermelhas. Fumam, conversam, sorriem pra mim. As três mulheres perdidas do centro cheiram a sexo e cigarro e todo dia o sol banha as canelas secas, os cabelos desgrenhados, as mãos indelicadas e os corpos morenos que ficam sentados ali.
Ai um mototaxista para, leva uma e a esconde por duas horas num desses motéis chulos. É sempre assim. Eu passo e penso que poderia salvar essas mulheres perdidas. Mostrar-lhes o caminho de casa, leva-las em casa. Lava-las, perfuma-las, cuida-las. E elas já não estariam perdidas e nem seriam personagens de uma história cinza. Eu também escreveria o nome delas no degrau da bodega, nos corpos dos mototaxistas, nas paredes dos motéis chulos, nos maços de cigarro.Todas as coisas seriam delas e elas não precisariam mais pertencer a nada.