existe ainda quem queira explicar o começo do tempo. eu explico como o tempo nasceu. na fórmula simples e inesperada, o tempo brotou de um olho. como os rios brotam de suas nascentes, os olhos d'água, o tempo também jorrou de um olho.
do tom castanho, mais claro depois que chora, o tempo nasceu no exato momento que a vi nua, sob a meia luz que abria a porta do quarto para te ver também. e foi bem ali, quando de olhos limpos a vi pela primeira vez, ouviu-se o choro do menino tempo.
enfim, nasceu o tempo.
Policrômico
.:::Pensamentos, palavras, atos e omissões:::.
+MAIS
quarta-feira, 5 de maio de 2021
terça-feira, 20 de abril de 2021
nunca me saiu da cabeça o causo que a professora de história de nem sei que série contou. Era uma aula específica sobre castigos ou torturas. Ou castigos e torturas. Medievais, em presos de guerra ou ditadura.
Pessoas amarradas, depois de terem seus corpos rasgados por chicotes com navalhas amarradas nas pontas, recebiam em suas feridas expostas, longas mechas de cabelo em movimentos de ir e vir. Incansáveis movimentos de ir e vir por entre a pele dilacerada até que algum objetivo entre matar este ou aquele fossem alcançado.
Cabelos. Longos, lisos, macios. Feridas. Profundas, vermelhas, talhadas na carne humana.
Como a carne, forte perante um fio, um mísero fio de cabelo, se via tão vulnerável? E me passava a cena repetidas vezes. E me perguntava repetidas vezes: como?
Quando estamos abertos. Quando deixamos qualquer brecha que leve a próxima camada do ser, é sempre e exatamente por onde passam as mãos que seguram suas espadas de fios de cabelos longos, lisos e macios, amolando na alma, em leves e sentenciáveis movimentos de ir e vir, a bainha da dor.
um corpo solto
solto. todo corpo é um. todo um é solto. um corpo solto é liberdade, sem amarras, livre de prisões. livre no cerne, livre na carne. um corpo solto à vontade. sua própria vontade. desafogado, descomprimido, desoprimido, descompresso. o corpo fora da caixa, fora do padrão. apenas o corpo pelo corpo. o corpo apenas solto.