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terça-feira, 19 de maio de 2015

Kara

Hoje de manhã, quando eu desci do ônibus e fui caminhando em direção ao trabalho, me dei conta do quanto gosto de você. Agora tudo se encaixou. As vontades, os pensamentos, os olhos, as mãos, as bocas. Eu quero tudo que ficou parado no tempo em que a gente não podia querer nada. Hoje de manhã, quando eu desci do ônibus e fui caminhando em direção ao trabalho, me dei conta de como somos imensos dentro dos beijos no cinema, dentro dos instantes andando de mãos dadas, gastando todas as horas conversando e rindo sobre qualquer coisa. O tempo de espera acabou e nós começamos.

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Cinco pra vinte

Eu só queria saber onde você vai almoçar hoje. Antigamente eu conseguia medir a distância dos seus passos e saber exatamente onde eu poderia ir pra lhe encontrar.
Você costumava morder os lábios quando eu discordava e, às vezes, eu fazia de propósito. Diz que ainda faz isso, por favor! Seu rosto corado depois da briga era sempre um convite lindo em nome da paz. O abraço era mais apertado e o sorriso confortava mais do que Dramin durante uma longa viagem de carro.
Eu sou torto, um autêntico Quasímodo, enclausurado de mim mesmo, mas liberto ao lhe ver, minha Esmeralda. Foi bom dançar no meio da praça, sob os olhos do mundo, sem medo ou pudor. A culpa nem encostava em nós, sabia? Aliás, nem a culpa e nem o tempo, o nosso maior inimigo, o grande vilão.
Já passaram messes, pra lhe falar com verdade e pesar, passou quase um ano! Tudo é vivo, cintilante, cor-de-sentimento. E se passar mais hora, dia, mês e ano, onde eu vou parar? Onde o mundo vai parar se eu não puder mais ver você? Nada tem sido normal e os dias são terrivelmente comuns, secos, esticados a força.
O tempo voltou a ser o vilão, não mais pela sua vontade em ser veloz, mas pela sua lentidão insuportável. Agora ele passa tão devagar, tão arrastado e pesado que sai rasgando um buraco em todos os espaços que sua ausência se faz presente.
Fiquei assustado ao me dar conta que faltam cinco anos pra dois mil e vinte e eu nem sei se ainda vou poder lhe sentir outra vez.

Ps. Onde estamos e quem somos só importa de segunda à sexta, de oito da manhã às cinco da tarde.

terça-feira, 5 de maio de 2015

um conto com pontos na testa

Uma pessoa caída no chão. As outras que estavam de pé pararam. O som parou. Tinham quase 30 olhos sobre ela. Que merda, cara. Que merda! Não adianta usar dessa filosofia ai. Dói. Parece que tem um corte entre as costelas. Foi o braço que desceu pesado demais no rosto dela. 30 olhos juntando cacos. Como estragar uma festa? Aquela emoção toda foi um grande presente! O som volta ao normal. Todos de pé, por favor. Um beijo no rosto. Desculpas. Ninguém pode brigar assim. Restabelecidas, paz e ordem. Não aconteceu nada. Brindes novamente. As pessoas ignoram tudo! O braço pesado e a pessoa no chão não são mais importantes. Cerveja. Música. Dança. O programa de tevê termina com “é vida que segue”. E a cena toda recomeçou desfocada. Grande erro ter sido legal. A cadeira infalsa e o medo. Uma pena tilintar taças tão finas. Foda-se, mocinha. Você mereceu. Onomatopeias. Gritinhos. Vozes alteradas. De novo não! Alguém tá bem desfigurado aqui, heim?! Uma pessoa caída no chão. As outras que estavam de pé pararam. O som parou. Tinham quase 30 olhos sobre ela.

em capsula

Cada vez menos confortável aqui.
Cada vez mais ciente de que não pertenço a esse lugar.

Branca

Não pode ser assim, Branca. Não desse jeito. É muito ruim viver aqui enquanto você mora lá do outro lado da fronteira… Você sabe que eu sou difícil, de gênio forte, mas você sabe também que consegue me amansar. É sua voz que me equilibra na linha tênue entre ter que viver e ter que viver, a qualquer custo, sem você. Branca, o relógio só desengancha quando você resolve aparecer. Eu suporto calado toda essa sua vontade de ser aventureira… E até me conformo em saber que talvez você se encante por um outro forasteiro, contanto que a noite você venha falar comigo. Nem que seja pra dizer que tá de saco cheio de mim e das minhas chatices. Nessa novela a distancia, Branca, eu não quero ser só mais um amigo. Você sabe que não pode ser assim… É muito ruim viver do outro lado da sua fronteira.

crazy for you, mon amour

Um pedido de fuga.
Ou um convite à loucura.
Abandone seus planos de terça a noite e fuja comigo. Você não precisa ficar pra sempre. Na verdade, nem acredito em “pra sempre”. Uma noite. Um dia. Basta isso. Mas fuja comigo. Sem rumo. Ou rumo a alguma coisa que nós vamos descobrir quando você estacionar o carro. Desacelerar. Descomplicar. Destemer. O sentido da fuga. O convite à loucura. Desregrar. Desobedecer. Despir. Vícios serão bem-vindos. Regras serão quebradas. Rir. Eu quero ouvir o som da sua risada. Eu quero ver seus dentes. Seus lábios. Suas bochechas. Você sorrindo. Tudo em você merece rir mais. Ou pelo menos rir mais comigo. Destravar. Desorientar. Desvendar. Existe urgência em querer. Lentidão em sentir. E uma linha tênue entre tudo e todos e eu e você.
Humanas.
Exatas.
O tempo.
A regra.
O plano.
O agora.
O desejo.
O nada.
Isso é um pedido de fuga.
Ou um convite à loucura.

Quando estamos de mal

Pouso
Repouso
Violento
Cinzento
Dia sem você

Beijo, astro, condensado

Estou a dois metros do chão, levitando entre quatro paredes. Evito você como quem evita morrer num fim de tarde, quando o sol se deita pra dormir. Eu não deito. Sou como um beija-flor que não descansa quase nunca, que não relaxa, que fica com o coração a 1.260 batidas por minuto. Mas também posso ser um astronauta suspenso no ar, vagando num universo que eu fiz pra mostrar só pra você. São planetas e constelações, buracos negros e suas extensões paralelas. Também posso ser uma nuvem qualquer, esperando que você me dê um formato específico ou apenas me compare ao abstrato, ao aleatório. O importante, mesmo, é que sendo beija-flor, astronauta ou nuvem, eu me mantenha longe de você.

Mais ou menos 5kg

A gente nunca sabe ao certo onde vai parar ou se realmente vamos parar onde quer que seja, amor.
Dessa janela, a vida passa em forma de pássaro, de carro, de gente, de nuvem e as vezes até em forma de sacola plástica desvairada, dançando uma valsa em espiral, subindo e descendo, deixando uma sensação ruim de não ter destino, de ser solto demais.

Li

Ainda hoje eu acordei lembrando de você, querendo saber se tu já fez aquela tatuagem que tu desenhou pra eu ver, se teu cabelo ainda tá na altura do ombro, se tu ainda escuta Queen, se continua deixando metade do sanduíche, se teu perfume ainda é o Hot… Teu pai tá bem? Tua mãe ainda pega muito no teu pé? E os cachorros? E o grupo de estudos sobre as tendências da moda, tem dado certo? Eu queria chegar perto sem sentir dor, sem causar dor. É difícil. O tempo não ameniza. Muito pior… O tempo parece que eterniza o que eu só preciso esquecer.

Sem compromisso

Eu não queria ter ido pra tão longe. Você sabe, meus problemas, às vezes, me obrigam a isso. Depois de um tempo eu volto, você também sabe disso. Nesses últimos dias andei pensando muito no que você me disse. Pode ser mesmo que tenha razão…. Eu sou bastante temperamental e nem sempre simpático. Não deu tempo de lhe contar, mas eu odeio pessoas felizes demais, odeio quem se importa demais… Pra mim, por trás de toda essa alegria e disponibilidade, existe um lado horrível que só aparece quando não tem mais ninguém pra assistir. Prefiro olhar tudo e todos sem muito interesse e expectativas. É muito melhor construir sentimentos do que lidar com pré fabricados. Não me exija porquês e nem tente entender o que nem eu mesmo consigo explicar. Talvez se me observasse mais, como eu lhe observei sem você notar…. É talvez, talvez.

Poeminha da tarde

é pra rir ou pra chorar?
não sei se rio
não sei se mar

O tanto e o tempo

Sem pretensão. Foi assim que começaram os discursos. Iria ser apenas uma conversa sobre coisas aleatórias: filmes, livros e rotina. Nada que eu ou você julgássemos ser de grande importância. Nada que não fosse praxe de um primeiro encontro qualquer. Fim de tarde, barzinho, meio da semana, ponto turístico. E eis a surpresa transvestida de você. Nome, sobrenome, óculos de grau e estuda pra passar em Medicina. Sei lá quanto tempo depois, cá estamos nós, divagando dia a fora, noite a dentro sobre as mesmas coisas que agora são importantes, que só existem porque nós existimos e falamos sobre elas.

Ps. Antes da perplexidade, vem o estado de graça.