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terça-feira, 7 de junho de 2016

Meus próprios animais selvagens encurralados

Acho que deveria ter no máximo 11 anos quando eu me perdi numa feira de agronegócios que acontecia aqui na cidade. Foi tudo muito rápido. Criança deslumbrada, querendo tudo ao mesmo tempo... me perdi, talvez, em uma questão de segundos. Cronologicamente, não passou de uns dez minutos, mas no relógio da minha cabeça foram horas! Ver minha mãe depois de toda aquela agonia, foi como voltar de um longo mergulho forçado, daqueles que o amiguinho segura tua cabeça embaixo d'água até que alguém grita "para com isso, menino!". Lembro que enfiei o rosto trêmulo contra a barriga de minha mãe, quase como se quisesse entrar lá de novo. Eu chorava e ria e abraçava minha mãe e pedia desculpas e ouvia as palavras duras de "nunca mais faça isso" com o coração aliviado. O que era pra ter sido um carão, acabou sendo mais prazeroso que um afago quando se está com muito sono.
Me sinto perdida e diferente de quando tinha apenas 11 anos, me perco e me acho e me desespero e me afago sozinha, no escuro do quarto.

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Os vizinhos.

Ele não soube cuidar de você.
Por quantas vezes, nas noites de sábado, sua única companhia foi o travesseiro e aquele disco do Devendra Banhart? Nas horas de soledade, ele estava na rua, no bar, sobre uma bicicleta veloz madrugada a dentro. O paradeiro dele sempre foi incerto, assim como a direção de um dos olhos. Você sabia, moça, que boa vontade nunca foi suficiente? Imagine uma armação cuja as vigas se sustentam apenas pelo prazer de estarem ali. Isso não existe, nós três aqui sabemos disso.