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segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Meu olho quase cego pelo sol se encantou com teu atrevimento ao pular da ponte velha.

O sol de meio dia ardia no rosto, nos ombros e onde mais batia. Aquele vento com cheiro de ferrugem, mar e você, me deixavam mais mareado. Nunca me senti aventureiro o suficiente e você sabia disso. Medo de altura, medo de queda, medo de me machucar, medo de morrer, medo do mar. A longarina velha rangia toda quando a onda arrebentava. Eu fiquei de cabeça baixa, olhando suas pernas, seus pés de unhas vermelhas e você empolgada, apontando pro longe, mostrando que pra esquerda era o porto e pra direita era o espigão. Não consegui prestar atenção em muita coisa e você sabia disso.
- Pula.
- O que?
- Pula. Eu duvido!
- Vai continuar duvidando.
Eu engoli seco. Pra que isso agora? Não suporto desafio!
- Deixa de frescura! Todo mundo pula daqui, sabia?
- Ah, mas eu não sou todo mundo. - Falei com um sorriso que a essa altura já estava corroído pela maresia.
- Hahaha! Vem! Deixa de bobagem!
- Pula você, então!
- Tudo bem.
Eu nem consegui acompanhar suas pernas, seus pés de unhas vermelhas. Você se jogou da ponte rumo ao mar. Minha unica reação foi pensar em nada e em mil coisas ao mesmo tempo. Você pefurou a água que nem uma flecha e pouco tempo depois emergiu rindo, fastando o cabelo do rosto.
- Vem! Eu pulei, agora é sua vez, vem!
Naquele instante eu só lembrei das histórias que eu lia sobre pescadores que se atiravam no mar quando ouviam o canto da sereia. Voltei no tempo por dois segundos e me vi com nove anos, naquela época eu sentia um misto de amor e ódio pelas sereias.
- Anda! Pula logo! Eu te seguro!
O vento bagunçava meu cabelo sem a menor cerimônia. Olhei pro céu. O sol estalando no alto, mal se via nuvens. Uma jangada passava rente a linha do horizonte. Por incrível que pareça, foi ali que eu percebi o quanto eu queria você e que, se fosse preciso pular dez, cem, mil vezes, eu pularia.