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domingo, 19 de julho de 2020

Convidou-me para um jantar em sua casa. Aceitei prontamente. Seguimos juntos pela rua de pedras. Enquanto caminhávamos lado a lado, a cada passo, bolhas de silêncio e pensamentos agoniados se amontoavam pelos ares, mas só eu era capaz de vê-las. Convidou-me a entrar na casa de porta pequena. E as bolhas, uma a uma, se desfizeram em gotas microscópicas de algum sentimento não identificado. Seus olhos, dois cães ferozes, acompanhavam-me em cada pequeno movimento. A mesa posta reforçava o convite. Já não havia mais opções. Eu, matéria viva - e tudo que em mim habitava, real e figurada -, estaticamente posicionada em sua sala de tábuas corrida. Sentei-me cui da so men te a mesa e num golpe desastroso, porém não menos mágico, esbarrei na faca de prata, tão pesada quanto o ar que respirávamos naquele lugar. Barulho. Silêncio. Os quatro olhos miram o objeto que assumira um novo papel em sua existência. A faca fincada verticalmente no chão de madeira, agora ressignificada, escolherera seu próprio destino de ser uma estaca.

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