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quinta-feira, 1 de outubro de 2015

as três mulheres perdidas do centro cheiram a sexo e cigarro

Eu desço do ônibus e as três sempre estão sentadas no primeiro degrau de uma bodega. Os pés encardidos, sofridos, de unhas vermelhas. Fumam, conversam, sorriem pra mim. As três mulheres perdidas do centro cheiram a sexo e cigarro e todo dia o sol banha as canelas secas, os cabelos desgrenhados, as mãos indelicadas e os corpos morenos que ficam sentados ali.
Ai um mototaxista para, leva uma e a esconde por duas horas num desses motéis chulos. É sempre assim. Eu passo e penso que poderia salvar essas mulheres perdidas. Mostrar-lhes o caminho de casa, leva-las em casa. Lava-las, perfuma-las, cuida-las. E elas já não estariam perdidas e nem seriam personagens de uma história cinza. Eu também escreveria o nome delas no degrau da bodega, nos corpos dos mototaxistas, nas paredes dos motéis chulos, nos maços de cigarro.Todas as coisas seriam delas e elas não precisariam mais pertencer a nada.