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domingo, 26 de julho de 2015

Parte I

Muitos acontecimentos. A semana que havia passado se resumia assim. Era um pouco depois das três da tarde e ela dirigia sozinha rumo à "viagem das férias". O carro ia pela estrada vazia e sim, como boa contraventora, o ponto metálico se deslocava em vinte quilômetros a mais do que o permitido pelas autoridades. Mas como não tinha ninguém vendo, ali podia correr.

Foi Love is a Losing Game que tocou, pelo menos, umas treze vezes seguidas no som do carro. O que se faz quando viaja sozinho? Como um roteiro a dois iria se transformar num solo? O amor é mesmo um jogo de azar, esse era o pensamento principal. O sol já não estava tão alto assim, mas o amarelo ouro estampado no fim da estrada, reluzia como se quisesse cegar.

E outro pensamento aparece. Viajar sozinho, depois de um desastre amoroso, talvez não tivesse sido uma boa escolha. E agora? Ela parou o carro no acostamento e desceu. Como numa propaganda de cigarro, escorou-se no capô e acendeu o penúltimo da carteira. Finalmente o sol estava se pondo. O destino final ainda estava a umas boas centenas de quilômetros, assim como tudo o que ela havia desejado por tanto tempo.

Mais ou menos sete e meia quando chegou, finalmente, em seu destino. Estacionou o carro em frente ao hotelzinho e tirou a mochila do portamalas. A partir daí seriam três noites e dois dias com meios planos. Sim, estava vivendo meios planos, meios dias, meios qualquer coisa. Fez o check-in e subiu  direção ao quarto cento e quatro.

Acomodar as malas, tomar um banho, essea foram as primeiras atitudes. A dinâmica estava indo bem. Ou seria o cansaço que havia ligado o piloto automático? Meia hora depois e o hotelzinho já estava desvendado. Não era grande e nem luxuoso. Hotelzinho, né... No balcão da recepção haviam alguns panfletos com indicações de restaurantes e bares, os dois próximos passos.

Sentou-se no restaurante e obsevou no cardápio "porções para duas pessoas" ou "serve até duas pessoas" e nao existia a possibilidade de prato individual. Perdeu a fome. Levantou-se e andou até a praça principal. O entorno era animado: bares, carrinhos de lanche, pessoas nas calçadas, sorveteria. Não adiantou. É difícil ser metade em meio a completos.

Voltou para o hotel. Sentar na recepção e ler as revistas de três meses atrás? Voltar para a praça e tentar comer, beber e conhecer alguém? O amor é mesmo um jogo de azar. Subiu o lance de escadas e entrou no quarto. Era tudo tão branco e limpo. Debruçou-se na janela e acendeu o último cigarro. Amanhã de manhã, talvez.