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segunda-feira, 27 de julho de 2015

Parte II

Ela havia conseguido superar a primeira noite. Intacta por fora, moída por dentro. Era mais ou menos seis da manhã quando despertou. A vista meio turva, a cabeça meio atordoada. Olhou pro relógio no pulso e decidiu que era cedo demais pra enfrentar qualquer coisa.

Onze da manhã. Ainda impregnada de sono e indisposição. O que se faz sozinho numa viagem de férias? Andou até o banheiro, evitou o reflexo no espelho. Uma bexiga aliviada é sempre bom! Voltou para a cama e pregou os olhos no teto meio chamuscado de sol. Não era hora de sair do quarto ainda.

Quem perde uma manhã inteira dentro de um quarto de hotel? Ela. Todos os planos arquitetados em dupla, para serem vividos em dupla, numa viagem à duas. Esse era o problema. Tudo estava incompleto, partido ao meio... Não saciava, não animava, só doía. Ela estava tão frágil que os olhos alheios poderiam mastiga-la apenas com um piscar.

Sentou-se na cama de cabeça baixa. Reparou que ainda estava com a mesma roupa do dia anterior. Andou até a janela e como uma espiã em missão, afastou um pouco as cortinas e pôs um dos olhos pra fora. Como aquela beleza podia causar tanta raiva e desprezo? Aquilo tudo era um assinte a tristeza que ela sentia... E agora?

Três e meia da tarde. Ela já estava íntima de todas as falhas no reboco das paredes e teto. As cortinas fechadas, o quarto em silêncio. Não comia e nem bebia. Afinal, por qual motivo ela tinha decidido viajar? Não existia resposta. Erro ou acerto na escolha agora tanto fazia. Ela estava ali e a única coisa que poderia ser feita era viver o momento. Como?

Um banho. Roupas limpas. Hora de sair do quarto e procurar algum sinal de vida. Desceu o lance de escadas e novamente pegou um dos panfletos com indicações no balcão da recepção. Olhou, reolhou... Nada era interessante. Caminhou até a praça. Incrível como a felicidade alheira é um punhal cravado no peito de quem está sofrendo... Principalmente sofrendo por amor.

Comprou cigarros e um isqueiro. Comeu um sanduíche e observou cuidadosamente tudo e todos que a cercavam. Levantou-se e tomou um rumo qualquer. Era só uma desculpa pra acender um cigarro e andar com as mãos enfiadas nos bolsos, fazendo meio pose de turista americano. Cansou de brincar de fingir. O hotelzinho parecia uma ótima opção pra terminar mais um dia. E lá se foi.